“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver
prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da
virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Talvez
este seja um dos pensamentos que traduziu a indignação que Rui Barbosa sentiu em 1914 ao inserir em suas Obras Completas (V. 41, t. 3, 1914. p. 86) tal assertiva e que trazida
à baila no momento atual, reflete o sentimento da população brasileira, tornando-se
fácil retratar utilizando todas as letras do nosso alfabeto: Aviltada, Bobeada, Cansada, Decepcionada, Enganada, Frustrada, Gélida, Humilhada, Irritada, Jururu, Lesada, Menosprezada, Negativada, Onerada, Pisoteada, Quimioterapiada, Revoltada, Surrupiada, Tiranizada, Ultrajada, Vilipendiada,
Xenofobiada, Yin (Como a letra Y é usada apenas em certos estrangeirismos,
socorro-me do chinês – taoísmo = passivo), Zangada.
Tudo
isso fez com que a população passasse a manifestar-se, exigindo mudanças contra
a corrupção, contra as irregularidades, contra os desvios, contra a impunidade
e passasse a exigir seus direitos.
Por
outro lado, temendo que as manifestações assumissem proporções incontroláveis,
as autoridades integrantes dos poderes Executivo e Legislativo federais passaram
a desengavetar decisões que há muito se encontravam paradas pela inércia e falta
de compromissos para com a população, entrando em regime de votação acelerada
itens mencionados em manifestações.
Premidos
pela força do povo a presidência da república e as casas legislativas em
reuniões e votações emergenciais passaram a aprovar medidas reivindicadas, onde
a própria Dilma Rousseff passou a liderar a formatação de agendas positivas que
segundo a mesma, levarão o país a trilhar novos caminhos.
Na terça-feira, 25, anunciou pactos em áreas como saúde, educação, reforma política e responsabilidade fiscal, em resposta aos apelos dos manifestantes, quando em reunião com governadores e prefeitos das capitais defendeu como “iniciativa fundamental” a transformação do crime de corrupção em crime hediondo.
Como
respostas práticas aconteceram:
1
– a rejeição da PEC 37/11 pelos
deputados, que atribuía exclusivamente às polícias Federal e Civil a
competência para realizarem a investigação criminal, sendo a matéria arquivada.
Com o plenário da Câmara Federal lotado, as manifestações nas galerias foram liberadas nesta terça-feira (25), vez que, gritos e aplausos normalmente são proibidos. Todos os partidos políticos orientaram os deputados a rejeitarem a PEC 37, que foi derrubada por 430 votos. Na comemoração, o hino nacional foi cantado por estudantes, procuradores e por parlamentares, sendo a primeira resposta da Câmara dos Deputados aos pedidos feitos pelos manifestantes nas ruas nos protestos.
2
– a aprovação do projeto que destina recursos
de royalties do petróleo para educação e
saúde (PL 323/07).
3
– a aprovação da proposta (PL 2729/11) que reduz
a zero as alíquotas do PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre os serviços de transporte
público coletivo municipal rodoviário, metroviário, ferroviário e aquaviário de
passageiros. Esse projeto precisa ser analisado pelo Senado.
4
– a aprovação da admissibilidade de
Proposta de Emenda à Constituição (PEC 90/11), que inclui o transporte no
grupo de direitos sociais, destinados a todas as pessoas na Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.
5
- Também foi aprovada a admissibilidade
da PEC 196/12, que institui o voto aberto para processos de cassação de mandato
parlamentar por falta de decoro e por condenação criminal com sentença
transitada em julgado. Essas duas últimas propostas serão analisadas por
uma comissão especial antes de seguir para o Plenário.
6
– Quanto ao combate à
Corrupção - a Câmara dos Deputados também começa a analisar nos
próximos dias um projeto (PLS 204/11) aprovado pelo Senado neste dia 26/06, que
torna crime hediondo a corrupção ativa e
passiva. A proposta inclui delitos contra a administração pública como
crimes hediondos, aumentando suas penas e dificultando a concessão de
benefícios para os condenados.
Sem
direito a indulto, liberdade mediante fiança, e com acesso limitado a liberdade
condicional e progressão do regime de pena os seguintes crimes: a) corrupção
ativa e passiva; b) peculato (quando o funcionário público se apropria de
dinheiro ou desvia em razão do cargo); c) peculato qualificado (quando
praticado por agente político e servidor com cargo efetivo de carreira); d)
concussão (exigir vantagem indevida); e) excesso de exação (quando o servidor
exige tributo indevido). Tem como proposta o aumento da pena mínima para 4
anos.
Em
seu parecer, o relator Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) argumentou que esses
crimes devem ser classificados como hediondos, pois a “subtração de recursos
públicos se traduz em falta de investimentos em áreas importantes, como saúde,
educação e segurança pública”.
Outros
temas integrantes da lista de prioridades dos manifestantes, também passaram a
ser discutidos e analisados emergencialmente:
1
– Transporte e Energia Elétrica - os
governos municipais, estaduais e federal estão buscando (e encontrando)
mecanismos para reduzir tarifas públicas.
2
- Reforma Política (mudanças na
legislação política, partidária e eleitoral) serão alvo de discussão entre parlamentares
e a presidente Dilma Rousseff.
3 - Tratamento da homossexualidade (Projeto de Decreto
Legislativo 234/11). A reunião dos líderes partidários está marcada para a
próxima terça-feira (02/07) e, se houver acordo, a proposta – que já foi
aprovada pela Comissão de Direitos de Humanos - pode ser votada no dia seguinte
no Plenário. A intenção, segundo o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves, é rejeitar o projeto.
4 - Passe
livre para estudantes matriculados e que tenham frequência comprovada. O projeto é do
presidente do Senado Federal Renan Calheiros que prevê o financiamento advindo
dos royalties do petróleo.
5
- Também estão prontos para votação projeto que destina 10% do Produto Interno Bruto para educação.
6 – Projeto que pune juízes e membros do Ministério Público condenados em crimes pelo Senado Federal.
Sem
sombra de dúvidas muito há que ser feito e muitas respostas ainda terão que ser
dadas ao povo que até então se encontrava passivo, seja pelo comodismo, seja pela
força dos hábitos, seja pelas tradições arraigadas ou mesmo pelas imposições, o
certo é que resolveu dar um basta, passou a usar sua capacidade de articulação,
de manifestação, de protesto, exigindo o respeito das instituições e dos
governos, e assim, entendo que somente desta forma, teremos no futuro um Brasil
melhor.
São
Luís-MA, 27 de junho de 2013.
Ten Cel PMMA Carlos Augusto Furtado Moreira
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