quinta-feira, 2 de julho de 2020

AULAS EAD NA POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO



Antecedentes

Antes de iniciar a pandemia da Covid-19, fui gentilmente informado por um ilustre Oficial integrante da Academia de Polícia Militar Gonçalves Dias (APMGD) que, em avaliação curricular, fui um dos escolhidos e em seguida designado para compor o rol de professores e instrutores do Curso de Habilitação de Oficiais da Administração e Especialistas – CHOA/E/2020, que a Polícia Militar do Maranhão geralmente oferece, visando habilitar os subtenentes ao oficialato.
Recebida com a óbvia honra, afinal de contas, em meio a uma plêiade de “facilitadores de conhecimentos”, constante no banco de dados da gloriosa casa de ensino superior, que tive o privilégio de comandar em duas oportunidades, ser distinguido entre tantos refletiu, a meu ver, no reconhecimento de minha competência profissional, por outro lado, também uma gigantesca responsabilidade, afinal está em jogo, a credibilidade da APMGD, como formadora, e a Diretoria de Ensino, como órgão de gestão das políticas de ensino, responsável junto ao comando da instituição, que, por sua vez, tem a grande obrigação de entregar à sociedade o homem treinado, obedecendo às melhores técnicas profissionais e pedagógicas existentes na atualidade.
Mas, como disse anteriormente, a pandemia impôs uma nova realidade, obrigando todos os setores sociais a fazer uma interrupção e uma reformulação em todas as suas atividades, a fim de se adequar ao momento em que se vive no planeta, por meio de muito planejamento.
Passados mais de 90 dias, recebo, a seguinte mensagem:
Sr instrutor do CHO. Visto o atual cenário de pandemia, e a necessidade iminente de início do Curso, há uma grande possibilidade de boa parte das disciplinas serem ministradas via EAD (Ensino a Distância). Pela plataforma Moodle, já utilizada pelo CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), com o valor de R$ 30,00 a hora/aula. Para tanto, estamos consultando o instrutor. Diante o acima exposto, o senhor continua tendo interesse em ministrar a disciplina? Coordenação do CHO.
Num primeiro momento, de forma impetuosa, ensaiei uma resposta imediatista ao meu interlocutor, entretanto, antes que apertasse a tecla de enviar do aparelho celular, passei a refletir sobre o seu conteúdo.
É cristalino que essa mensagem segue uma cadeia de comando, originária de um poder decisório e, antes que a simples negativa seja enviada, é mister que uma justificativa plausível seja elaborada, a fim de que, ao ser recepcionada, possa levar os envolvidos no processo, no mínimo, a uma reflexão.

Experiência pedagógica

Desde o ano de 1988, em relação ao ensino na corporação, fui indicado como instrutor na PMMA, cujas oportunidades foram devidamente publicadas no boletim geral da corporação, bem como desempenhei atividades como professor e outras atividades pedagógicas em áreas diversas.
- Instrutor na disciplina de Controle de Distúrbios na Companhia de Polícia Choque Independente (1988);
- Instrutor nas disciplinas Teoria Cinófila, Prática Cinófila, Emprego Policial Militar do Cão no Pelotão Especial - CANIL (1988/1989);
- Instrutor nas disciplinas Relações Públicas e Humanas, Chefia e Liderança e Metodologia do Ensino nos Cursos de Formação de Cabos e Formação de Sargentos, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP (1990);
- Instrutor sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente em cursos de extensão em diversas Unidades da Corporação (1990/1991);
- Instrutor de Policiamento Ostensivo para a 2ª Companhia de Policiamento do 1º Batalhão de Polícia Militar (1991);
- Instrutor de diversas disciplinas na área ambiental para o Batalhão de Polícia Florestal – BPFLO (1991);
- Professor de diversos cursos na área ambiental para a Divisão de Fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo do Estado do Maranhão (1992);
- Instrutor na disciplina Técnica Policial Militar dos Cursos de Formação de Soldados e Formação de Sargentos no CFAP (1993);
- Professor de direitos humanos na Missão das Nações Unidas para Verificação dos Direitos Humanos na Guatemala (1995);
- Palestrante no Curso de História da Universidade Federal do Maranhão - UFMA (1996);
- Instrutor de Policiamento Ostensivo para as Companhias de Policiamento do 3º Batalhão de Polícia Militar – Imperatriz (1999);
- Instrutor na disciplina Direito Constitucional para o Curso de Formação de Soldados do CFAP (2002);
- Instrutor na disciplina Gerenciamento de Crises para os Cursos Especiais de Formação de Cabos no CFAP – I e II (2004);
- Instrutor na disciplina Gerenciamento de Crises para o Curso especial de Formação de Sargentos no CFAP (2006);
- Instrutor de Processo de Tomada de Decisão Aplicado para o Curso Especial de Formação de Sargentos PM, no CFAP (2007);
- Professor do Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil no Território Brasileiro (2009);
- Diretor de Ensino da Academia de Polícia Militar Gonçalves Dias (2009);
- Instrutor nos Cursos de Promotor e Multiplicador de Polícia Comunitária realizados pela PMMA (2009 a 2013);
- Instrutor na disciplina Legislação especial para o Curso de Habilitação para Oficiais da Administração e Especialistas;
- Orientador de vários Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) do Curso do Curso de Formação de Oficiais (2011 a 2017);
- Integrante de várias bancas Examinadoras do Curso de Formação de Oficiais (2012 a 2017);
- Integrante de banca examinadora do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Academia Coronel Walterler (2014);
- Diretor de Ensino da Academia de Polícia Militar Gonçalves Dias (2014/2015);
- Integrante de bancas examinadoras de Artigos Científicos do Curso de Especialização em Cidadania, Direitos Humanos e Gestão da Segurança Pública da Universidade Federal do Maranhão (2017).
Ao ser designado/convidado para desempenhar as atividades acima descritas, nutro a convicção de que tal reconhecimento decorreu em razão da minha comprovada preparação, visto que sempre desenvolvi preocupação com uma contínua formação e especialização, buscada de forma paralela às minhas atividades profissionais, constatando-se em meu currículo 4862918853894465 na Plataforma Lattes:

A Plataforma Lattes é um sistema de currículos virtual criado e mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo qual integra as bases de dados curriculares, grupos de pesquisa e instituições em um único sistema de informações, das áreas de Ciência e Tecnologia, atuando no Brasil. Foi concebida para facilitar as ações de planejamento, gestão e operacionalização do fomento à pesquisa, tanto do CNPq quanto de outras agências de fomento à pesquisa, federais e estaduais, e de instituições de ensino e pesquisa.

O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua crescente confiabilidade e abrangência, tornou-se elemento indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia.

Objetivos na área pedagógica

Em todas as oportunidades em que fui escolhido para o mister educacional, procurei desempenhá-lo de forma profissional e responsável, desde a preparação, debruçando-me sobre a bibliografia orientada e extensiva sobre a disciplina existente, dedicando horas e horas, fora dos momentos dedicados às atividades profissionais, a fim de não prejudicá-los. Dessa forma, inúmeras foram as noites e madrugadas adentro em pesquisas, buscando, na atividade de transmissão, propiciar ao instruendo/aluno informações abalizadas, atualizadas que o levassem à formatação de posicionamentos próprios.
Com certeza, profissionais que também enveredam por esse espinhoso caminho sabem quanto é difícil. Utilizando dos métodos e das ferramentas pedagógicas, aprofundei-me não só em transmitir, mas também em avaliar as produções, corrigi-las e discutir pedagogicamente com os discentes, levando-os a uma constante reflexão.
Portanto estou convicto de que sempre desempenhei o mister da docência com responsabilidade, zelo e, acima de tudo, com amor, pois, tal como como definem o professor e o delineiam, segundo vastas informações disponíveis na rede mundial de computadores, assim o fiz:
Pessoa que ensina ciência, arte, técnica ou outros conhecimentos. Para o exercício dessa profissão, requer-se qualificações académicas e pedagógicas, para que consiga transmitir/ensinar da melhor forma possível ao aluno.

Grau de importância que a educação ocupa no Brasil

O Brasil é uma das nações que, reconhecidamente, não oferta aos diversos profissionais de educação condições dignas e remuneratórias adequadas à sua importância, e a mensagem recebida, mencionada, é uma cristalina demonstração de tal afirmativa.
Vários são os profissionais que se dedicam a estudar e apontar os problemas relativos à educação no Brasil, cujos dados, como os relatados em A qualidade da educação brasileira (https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/a-qualidade-educacao-brasileira.htm_) nos permite ter uma pequena ideia do grave problema nacional.
Antagonicamente, outros se preocupam em mostrar a importância que a educação possui como direito fundamental:
A Educação é um direito fundamental que ajuda não só no desenvolvimento de um país, mas também de cada indivíduo. Sua importância vai além do aumento da renda individual ou das chances de se obter um emprego. "Perguntar a importância da Educação é como perguntar qual a importância do ar para nós. É pela Educação que aprendemos a nos preparar para vida", disse a socióloga e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Sandra Unbehaum.
Por meio da Educação, garantimos nosso desenvolvimento social, econômico e cultural. Sandra explica que o direito à Educação de qualidade é básico porque assegura o cumprimento de outros direitos. (http://www.vidasraras.org.br/site/politicas-publicas/424-qual-e-a-importancia-da-educacao)

EAD – Educação a Distância

No tocante à EAD, conforme informações sobre tal modalidade de ensino, reporto-me historicamente ao seu surgimento na cidade norte-americana de Boston pelo professor Caleb Phillips, no século XVIII, que oferecia curso de taquigrafia por correspondência.
Para chegarmos ao que chamamos de 5ª Geração da EAD, desde os remotos idos de 1728, quando o objetivo era capacitar para o mercado de trabalho em atuação nos Correios, passamos pela 2ª Geração com início em 1920 por meio do rádio e posteriormente a TV na transmissão de cursos, vindo depois a 3ª. Geração, em 1970, com a abertura da primeira universidade aberta localizada em Londres e, uma década depois, a 4ª Geração em 1980, com a popularização dos computadores e videocassetes. Na atualidade, vivenciamos a 5ª Geração, desenvolvida em plataformas digitais compatíveis e disponíveis em diferentes dispositivos móveis, tais como: celular, computador, tablet, smartphone etc., destarte, hoje, utilizadas por estudantes de diversas partes do mundo.
Evidentemente, o método de educação a distância não foi criado para substituição das aulas presenciais, e, sim, como um caminho a mais para aqueles que não possuem a possibilidade de frequentar uma aula presencial, tal como é o caso em tela vivenciado pela população mundial (https://www.estudiosite.com.br/site/moodle/como-surgiu-a-ead), embora, acredite e vislumbre a futura geração suplantando gradativamente a forma presencial.
 Como método eficaz, começaram a surgir as legislações específicas, que destaco:
O Sistema UAB foi instituído pelo Decreto nº 5.800, de 08 de junho de 2006, para "o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País". Fomenta a modalidade de educação a distância nas instituições públicas de ensino superior, bem como apoia pesquisas em metodologias inovadoras de ensino superior respaldadas em tecnologias de informação e comunicação. Além disso, incentiva a colaboração entre a União e os entes federativos e estimula a criação de centros de formação permanentes por meio dos Polos de Educação a Distância, em localidades estratégicas. (http://capes.gov.br/uab/o-que-e-uab).
 Recentemente, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) abriu um edital para que instituições de ensino superior demonstrassem interesse em oferecer programas de mestrado nessa modalidade (seja acadêmico ou profissional), por intermédio da Portaria nº 90, de abril de 2019. Para serem autorizadas, era necessário que a instituição já tivesse um programa presencial na mesma área cuja avaliação exigiria nota de, no mínimo, quatro pontos. Além disso, a instituição também deveria ser credenciada pelo MEC e ter nota mínima 4 no Índice Geral de Cursos (IGC), calculado pela pasta. (https://querobolsa.com.br/revista/brasil-tera-cursos-de-mestrado-e-doutorado-a-distancia-segundo-capes).
É de cabal importância aludir que, se, para o desempenho das atividades da docência presencial, envolve-se uma série de habilidades, o EAD, muito mais, portanto não basta apenas uma plataforma, exigem-se cuidados mais rigorosos e técnicas mais apuradas do docente, desde a sua imagem ao domínio de recursos, destarte, o ensino on-line deveria ser muito mais bem-remunerado do que o presencial.

As dificuldades de gestão na Polícia Militar

Reconhecidamente, as corporações policiais militares, responsáveis nas Unidades Federativas — Estados — pela polícia ostensiva e pela preservação da ordem pública, conforme previsto no texto constitucional de 1988, enfrentam uma diversidade de problemas para cumprirem com a sua responsabilidade, visto que não recebem dos governos a que estão subordinados, as condições necessárias para cumprirem com as suas obrigações.
Os seus comandantes, conscientes de sua responsabilidade legal, ao receberem a honra de comandarem as suas instituições, recorrem a “malabarismos”, principalmente por conta dos ínfimos recursos que recebem em cada exercício para desenvolverem uma gama de ações, inclusive, devendo cumprir com imensas responsabilidades para com o próprio Comandante em Chefe — Governador do Estado —, para com os seus comandados no atendimento das necessidades institucionais internas e, a maior delas, respostas às demandas sociais.
Ao longo de meus quase 35 anos na Corporação, convivi e acompanhei as agruras que vivenciaram os meus companheiros, Comandantes Gerais, no sentido de atender a esses reclamos. Vi muitos deles perderem a sua jovialidade, a tranquilidade e, às vezes, o equilíbrio, no período em que desempenharam a sagrada missão de comandar uma das instituições mais longevas do Estado Brasileiro — a Polícia Militar —, exatamente por não receberem as condições devidas.
Portanto jamais poderia responsabilizar o gestor que, de alguma forma, é obrigado a ter que tomar decisão dessa magnitude, pois, se não o fizer, é certo que a sua substituição ocorrerá no mais curto espaço de tempo. E uma Instituição como a Polícia Militar, com a sua importância social, magnitude de seus membros e com a grandeza de seus serviços prestados, jamais pode ficar acéfala, pois necessita, independentemente de quem quer que a comande, cumprir com as suas missões.
Entretanto não posso deixar de fazer um registro lamentável: entre diversas atividades ligadas à docência já desempenhadas para a APMGD, ao longo dos anos, não foram poucas as oportunidades em que não recebi a contrapartida financeira pelo desempenho profissional. Entretanto, até hoje, ainda acalento a esperança de receber os devidos honorários pelo exercício como instrutor dos 02 Estágios pela Corporação: o ESTÁGIO DE ADAPTAÇÃO PARA OFICIAIS DE SAÚDE (EAOS/2018) e o ESTÁGIO DE ADAPTAÇÃO DE OFICIAIS CAPELÃES (EAOC/2018), desenvolvidos no ano de 2018, determinada a execução pelo Governo do Estado do Maranhão. Em ambos, já na reserva, fui convidado e desenvolvi de forma integral as disciplinas previstas na grade curricular. (Anexas, algumas solicitações de providências por parte do Comandante da Academia de Polícia Militar Gonçalves Dias ao Comandante Geral da PMMA.)

Conclusão

A docência é uma das atividades mais prazerosas que desenvolvi ao longo dos anos, no entanto nem sempre o quantum financeiro foi levado em suprema consideração, pois, às vezes, é regozijante quando, eventualmente, encontramos discentes que manifestam a satisfação em terem em algum momento de sua vida sido aluno deste Oficial, em algum curso.
O Estado do Maranhão propaga, por intermédio da mídia falada, escrita, televisada e em redes sociais, que a educação ocupa significativa importância entre as suas atividades, inclusive faz um excelente marketing como a unidade federativa que melhor remunera seus professores. Destarte, avaliando-se por esse aspecto, não justifica que a sua Polícia Militar desconsidere os seus instrutores com a redução em 50% dos valores devidos ao mister pedagógico, como justificativa em função do desenvolvimento ocorrer de forma on-line, pois, buscando-se guarida nos posicionamentos das autoridades de ensino no país, não existe diferença alguma no quesito relativo à importância, entre a forma de ensino presencial ou a distância, em que um não se sobrepõe ao outro.

São Luís - MA, 16 de junho de 2020.


Carlos Augusto Furtado Moreira
Cel PMMA RR

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