quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA URBANA E DA CRIMINALIDADE

Atualmente tais fenômenos ultrapassam as barreiras das nossas simples tentativas de entendê-los, pois, simplesmente atacar as consequências, não buscando entender as causas para que sejam debruçados esforços que atentem para os mecanismos que tendam a diminui-los, aproveitando da inteligência policial, auxílio na concepção de políticas públicas e utilização adequada dos meios disponíveis, parece ser UM caminho facilitador.

A guerra entre órgãos de segurança e as pessoas contumazes em ações criminais e violentas sempre existirá, primeiro porque trata-se de um fenômeno humano e social; como nós policiais, nos acostumamos a colocar em prática, apenas estratégias, baseadas em nossos aprendizados e conhecimentos, muita das vezes deixando de dialogar com todos os atores que de alguma forma, possuem algum tipo de ajuda a oferecer ao Sistema de Segurança Pública; diferentemente se assim agíssemos, as ações policiais seriam mais direcionadas e possivelmente coroadas de maiores sucessos.

Durante a minha carreira policial militar, privilegiei o trabalho em conjunto com diversos setores sociais e autoridades diversas, vez que as Unidades Policiais Militares (UPMs) que comandei, pude experimentar declínios vertiginosos de violência e criminalidade, conforme reconhecimentos dos parlamentos municipais e estadual.

Entre 2003/2005 na área do 9° BPM, região oeste e central de São Luís, conseguimos vários declínios e índices vitoriosos que foram comemorados entre a PMMA e as Comunidades (exemplos mais significativos foram as comemorações:

1) em novembro de 2005 na Praça Mário Andreazza na Liberdade), o corte de um bolo confeitado desfrutado por integrantes da PMMA e pessoas moradoras dos bairros, simbolizando a passagem de mais de 120 dias, sem a ocorrência de nenhum homicídio em toda a adjacência, após um trabalho de intensificação do policiamento comunitário na área.

2) outro fato inusitado foi comemorar praticamente 01 ano (entre 2009/2010), sem a ocorrência de nenhum homicídio no município de Pinheiro (10° BPM).

Sem sombra de dúvidas, estes resultados satisfatórios, símbolos de sucessos alcançados, foram alcançados, com a realização de um trabalho conjunto, com uma participação efetiva de parcelas representativas das Comunidades, bem como o apoio de órgãos e instituições, através de seus dirigentes.

Chamo isso a atenção, em face do que li neste convite, abaixo registrado.

 

Conduta de Dom Quixote em contexto de violência em São Luís será tema de live

 

Do século XVII para o século XXI, aparentemente, muita coisa mudou, sobretudo no que se refere à tecnologia. No entanto, em se tratando de outros aspectos, a situação seria imutável, mas somente quando a referência é a questão arquetípica, isto é, fenômenos sociais que sobrevivem ao tempo e são transmitidos de geração a geração, apesar da variabilidade de culturas no planeta. Em termos míticos, Dom Quixote de La Mancha, por exemplo, continua existindo no comportamento humano. Sobre esse tema, irei fazer uma live no próximo sábado (15), às 19h, no meu instagram, adaptando a conduta desse personagem ao contexto de violência urbana em São Luís/MA.

Escolhi esse tema por vários motivos, dentre os quais a pesquisa que faço acerca da guerra urbana no Maranhão. O confronto entre facções criminosas é um dos itens desse meu estudo, que inclui, ainda, a ausência de políticas públicas nos bairros nos quais há presença de integrantes dessas organizações do crime organizado. Atualmente, o cenário na capital maranhense é bastante complexo, tanto nas ruas como no ambiente intramuros. No espaço público, por exemplo, um grupo denominado “Família Ribamarense” (RBM) se formou a partir de uma cisão dentro do Primeiro Comando da Capital (PCC), que perdeu força na Grande Ilha (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa).

A obra de Miguel de Cervantes pode ser adaptada para qualquer situação do cotidiano.

Eu não considero a RBM uma facção, porque não se enquadra nos critérios que a Antropologia e o Direito Penal selecionaram para essa categoria referente à violência. No Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, a antiga gangue Anjos da Morte (ADM) “ressuscitou” e está fazendo uma espécie de aliança com o Comando Vermelho (CV), mas o relacionamento entre os dois grupos está por um fio. Todo esse panorama mostra como os delírios e as alucinações, tão estudados na Psiquiatria e Psicologia, não são eventos vinculados somente ao cérebro. Em outras palavras, significam que são reflexos da forma como o ser humano se desloca espacialmente, emocionalmente e socialmente.

Dom Quixote era considerado uma pessoa normal, dentro dos padrões civilizatórios. Mas, como resultado do seu vício em leituras de romances de cavalaria, perdeu a noção da realidade e passou a se comportar como alguém dissociado da sua própria vivência como fidalgo. O desejo dele se tornou sua fantasia, do ponto de vista psicanalítico. Em São Luís, os faccionados imaginam lutar contra "monstros", representados pelos seus rivais, e, nessa “loucura”, sentem prazer ao capturarem o inimigo ou ao trocarem tiros com as forças policiais. A ideia de “vida loka”, nesse sentido, é o caminho para a morte por negarem a veracidade de uma alternativa que os levaria a uma vida digna.

A violência urbana em São Luís é reflexo da insanidade em uma sociedade fragmentada,

Eu gosto de adaptar obras literárias não apenas ao assunto da criminalidade, como, também, a outros, como a vida saudável, estética, vaidade, alimentação, mercado, emprego, moda, casamento, amizade, ontologia, dentre outros. Então, eu os convido a assistirem à live, que será transmitida no meu instagram (@nelsonchagas.melocosta), às 19h, no próximo sábado.

 

São Luís/MA, 11 de agosto de 2020.

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