No prelúdio do nascimento de
Cristo, nosso Salvador, no recôndito de minha memória, voltei a um passado não
muito distante, onde na madrugada do dia 24/12/2010, me encontrava em um misto
de expectativa, aflição e esperança, aguardando pacientemente a chegada daquele
que a mãe, pelos beneplácitos da tecnologia médica, já sabia tratar-se de um
menino, me privilegiava com o meu nome, propiciando a saga histórica da
continuidade de gerações.
Isso não quer dizer exatamente que as outras mães dos meus filhos anteriores não tenham tido a preocupação em patentear suas origens. Aí estão Carla e Carlo, além do tronco familiar Moreira. Mas o que reflito aqui é a questão da mãe em acrescentar ao filho o meu nome, completando-o: Carlos Augusto Furtado Moreira Filho.
Pode existir uma forma maior de
se homenagear um pai? Minha mãe já o havia feito com o meu irmão mais velho,
José de Ribamar Moreira Filho, que partiu prematuramente para o Reino
Celestial. Recebi tal homenagem como a mais importante de minha vida. Pela relação
que desfruto hoje com Carlos Filho, estou convicto de que ele recebe, em grau
maior, todos os sentimentos que aos seus irmãos foram também ofertados,
entretanto, de forma menos intensa, em razão do final das relações e dos novos
caminhos que tomaram as vidas envolvidas.
Carlos Filho, a exemplo de seus
irmãos, é aquela doçura de pessoa: meiga, carinhosa, preocupada com seus
semelhantes, inteligente, sensata, perspicaz, e que, dotado em grande parte dos
atributos da mãe Fabiane, propiciou um novo sentido à minha vida. Veio
exatamente em um momento em que começava a replanejar minha vida, pois faltava
pouco para afastar-me das minhas atividades profissionais que ocuparam minha
atenção ao longo de mais de 34 anos - a PMMA. Confesso que minha paixão pela
carreira muitas vezes me dividiu em relação à própria família.
Daí porque Carlos Filho tenha
sido um privilegiado em relação aos seus irmãos. Nasceu em uma época de menos
atividades (processo de desaceleração profissional), melhor estabilidade
financeira, com uma atenção exclusiva de sua mãe e avós, principalmente maternos,
extasiados pelo novo rebento, um pouco diferente dos paternos que, com um
número maior de netos, já haviam experimentado inclusive a condição de bisavós.
Volto ao início dessa crônica,
relembrando que desde o momento em que a bolsa amniótica estourou, por volta de
01h30, quando descansávamos ainda na casa dos sogros no Recanto dos Vinhais. Ao
ser despertado por Fabiane, me vi como um marinheiro de primeira viagem,
atônito, sem saber o que fazer, logo buscando o socorro do Sr. Gonçalo e D.
Francisca. Alguém diz: "Ligue para o médico, ele já está de
sobreaviso." Informei-lhe e o mesmo orientou-nos a seguir para a
maternidade. Pouco depois, Fabiane já se encontrava preparada para a cesárea e
eu segurava-lhe a mão, tranquilizando-a e transmitindo que estava a seu lado
naquele momento importante: para recebermos o nosso príncipe.
Mesmo com o equilíbrio de quem já
havia acompanhado o nascimento de quatro filhos, ao vê-lo vir ao mundo,
tomei-me de aflição ao perceber que a enfermeira não o agasalhava naquele
ambiente frio. Preocupei-me e a mãe compreendeu que naquele momento era necessária
a minha intervenção para tentar envolvê-lo em uma proteção, visto que estava
até poucos momentos antes em seu ventre materno. Era cristalino que o frio o
atacava impiedosamente. Como um animal que protege a sua cria, solicitei à
médica pediatra que acompanhava o parto uma providência imediata, logo
resolvida.
Já por volta das 04h, quando tudo
era silêncio, a situação normalizada, e só nós três no apartamento, agradeci a
Deus por um filho saudável e maravilhoso, pela mãe extenuada, mas feliz, e por
iniciar mais um turno de vigilância para que usufruíssem da segurança e da
tranquilidade. Logo cedo, antes mesmo das 06h, eu já espalhava a boa nova a
todos os familiares e amigos, lembrando de uma de minhas frases natalinas:
Enquanto continuar nascendo crianças, é sinal de que Deus ainda não havia
esquecido da humanidade!
São Luís - MA, 24 de dezembro de 2020.
Carlos Furtado
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